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Luto infantil: como falar sobre morte com crianças

Luto infantil: como falar sobre morte com crianças

A evolução da compreensão da perda e a importância da honestidade e do diálogo constantes

Luto infantil: como falar sobre morte com crianças

6 Dezembro 2021

Algumas perdas são inevitáveis e a morte é uma delas. Mesmo sendo doloroso, falar sobre esse assunto é um caminho necessário. Mas como conversar com as crianças sobre a perda de uma pessoa querida? E como ter essa conversa num momento em que os adultos também estão fragilizados?

O luto é uma reação emocional tão natural quanto difícil. É assim para todas as idades, inclusive entre as crianças. Embora guarde semelhanças com o processo de adultos, o luto infantil pode apresentar algumas particularidades. Isso acontece porque as crianças têm diferentes graus de compreensão sobre a morte. Vamos entender um pouco mais?

Leia neste artigo:

Como a criança compreende a morte?

Seis maneiras de conversar sobre morte com as crianças e entender o luto infantil

A criança deve ir ao funeral?

Quando buscar ajuda profissional para lidar com o luto infantil?

 

Como a criança compreende a morte?

A compreensão das crianças sobre a morte varia de acordo com as experiências pessoais e familiares – e andam junto ao desenvolvimento cognitivo delas.

Embora seja variável, a categorização por faixa etária ajuda a compreender o processo de cada uma:

Até os 3 anos: a criança percebe a morte como ausência e falta e pode pensar que é algo temporário, que é possível “morrer só um pouquinho” e voltar.

Entre os 3 e 5 anos: a criança ainda mistura muito fantasia e realidade, podendo criar teorias próprias ou mesmo se sentir culpada em relação à morte de alguém próximo. Ela percebe que os adultos estão sofrendo e associam a morte a algo triste.

Entre os 5 e 7 anos: a criança já entende que o corpo pode “parar de funcionar” e tem mais clareza sobre o “para sempre” ou “nunca mais” e pode fazer perguntas mais profundas sobre as crenças da família.

Entre os 7 e 10 anos: a compreensão está mais clara, mas pode haver dificuldade em identificar e expressar sentimentos.

A partir dos 10 anos: a criança já entende melhor conceitos abstratos e pode compreender o que as outras pessoas também estão sentindo sobre o fato.

 

Importante: essa classificação etária é apenas um norteador para o início de uma conversa. As percepções variam de acordo com as experiências já vividas, como a morte de um animal de estimação ou de um familiar.

 

Para entender realmente o que se passa na cabecinha das crianças, é importante, sobretudo, ouvi-las.

 

Seis maneiras de falar sobre a morte com as crianças e entender o luto infantil

Antes de qualquer coisa, é preciso entender que não se trata de apenas uma conversa. A assimilação da perda e a experiência do luto requerem uma abertura ao diálogo constante. É preciso falar e ouvir muitas vezes sobre os diferentes sentimentos envolvidos. Acontece da mesma forma com adultos, não é mesmo?

 

1.   Apresentar o tema antes

A perda de uma pessoa querida faz parte da vida. Apresentar o tema para a criança antes que  ela o vivencie facilita a assimilação gradual da finitude da vida.

Filmes como Rei Leão, Up, ou Viva a Vida ajudam a introduzir o tema. A literatura infantil também permite a abertura do diálogo a partir da ficção. A contadora de histórias Flávia Scherner sugere uma lista de livros infantis sobre perdas e morte no canal Fafá Conta.

 

2.   Transparência e honestidade com a criança

Foto de uma mão conversando com uma criança

Apesar de ser tentadora a ideia de poupar as crianças dos sofrimentos da vida, omitir ou mentir sobre o tema talvez não seja uma boa opção. O silenciamento pode atrapalhar na compreensão da criança sobre o que está acontecendo.

Quando alguém morre, além da ausência dessa pessoa, a criança percebe a alteração emocional dos adultos à sua volta. Ela pode sofrer igualmente, mas sem entender o porquê. Não explicar o que está acontecendo ainda cria um tabu sobre o assunto, uma aura de segredo, como se a dor e o sofrimento fossem assuntos proibidos.

Na hora da conversa, é importante ter cuidado com metáforas sobre “viagem”, por exemplo, para não gerar confusão nos conceitos e, talvez, criar uma expectativa que não se concretize. Nesse sentido, a metáfora de “virar uma estrelinha” pode ser mais eficiente para suavizar um pouco o assunto, especialmente entre os mais novinhos.

E não precisa esconder seu sofrimento. Entender que os adultos também têm momentos mais vulneráveis, de tristeza e incerteza, também ajudam no amadurecimento emocional das crianças. Se os pais conseguem falar sobre isso com honestidade, a criança, aos poucos, aprenderá a fazer o mesmo.

 

3.   Não é preciso saber todas as respostas

Muitas vezes, a vontade de evitar o assunto é causada pela própria dificuldade de entender o que aconteceu. “Como falar do que nem eu mesmo sei?”, se perguntam alguns pais.

É importante lembrar que cada cultura, religião ou família constrói narrativas sobre a morte – não existe apenas uma. Compartilhar a dúvida ou as crenças é uma forma saudável de elaborar e acolher os sentimentos e criar uma interpretação para o que aconteceu.

Porém, independentemente das crenças, recomenda-se deixar claro para as crianças que o corpo não funciona mais depois da morte, e que esse é um processo irreversível.

 

4.   Entender o sentimento e as manifestações físicas do luto

É fundamental abrir espaço para a criança expressar os sentimentos, seja raiva, tristeza, medo, culpa ou ansiedade. Essas emoções provocam reações no corpo que variam conforme a pessoa: vontade de chorar, fraqueza, náusea, tremor, aperto no peito, embrulho no estômago etc.

Pergunte à criança como ela está percebendo tudo o que está acontecendo. Deixe-a falar livremente. Conversar sobre essas percepções também é importante para elaboração do luto, autoconhecimento e desenvolvimento emocional.

 

5.   Dar tempo ao luto infantil

O sentimento de perda pode se manifestar em momentos diferentes para adultos e crianças. Para as menores, é comum que, inicialmente, não percebam a gravidade da morte da mesma forma que um adulto.

Não estranhe se a criança agir como se nada tivesse acontecido, especialmente se não for alguém que faça parte das relações diárias. Com o tempo, conforme percebem a irreversibilidade da morte e da ausência, começam a experimentar a dor da perda.

Ao mesmo tempo em que se deve respeitar esse tipo de reação, é importante ficar atento às manifestações não explícitas do luto, como mudanças de comportamento, de apetite ou alterações no sono e no humor.

 

6.   Estimular boas lembranças

Lembrar de histórias e rever fotografias é uma forma de mostrar à criança que a pessoa que faleceu poderá não estar mais junto presencialmente, mas que continuará fazendo parte da memória de cada um. E que por mais que seja triste pensar que não teremos mais a pessoa por perto, podemos sempre visitar as lembranças.

Desenhar ou escrever uma carta agradecendo os momentos vividos também são formas de assimilar aos poucos a morte.

 

A criança deve ir ao funeral?

Criança com olhar tristonho no colo do pai

Os rituais de despedida permitem uma melhor compreensão do processo da morte. Mas a decisão de levar ou não a criança cabe à família e não existe certo ou errado.

Se a opção for por levar a criança ao funeral, é importante que haja um adulto próximo a ela em condições emocionais de acolhê-la e conversar sobre perguntas que ela possa fazer. Por exemplo, explicar que a pessoa não vai acordar mais, que essa é uma despedida, que as pessoas choram por saudade, tristeza, medo.

Por outro lado, se os pais estiverem muito fragilizados ou em desespero, podem não estar em condições de acolher a criança e optar por deixá-las em casa na companhia de alguém de confiança.

De toda forma, é importante explicar o que está acontecendo – considerando a capacidade de compreensão da faixa etária. É possível que grande parte do que for vivido nesse momento seja ressignificado conforme a criança cresce e as conversas evoluem.

 

Quando buscar ajuda profissional para lidar com o luto infantil?

Foto de uma criança conversando com uma psicóloga

É comum que crianças misturem fantasia e realidade e criem teorias próprias para a morte de uma pessoa próxima, especialmente se for um dos pais, por exemplo. Muitas podem sentir culpa por ter brigado em algum momento ou nutrido um sentimento negativo – e achar que são culpadas pela morte.

Esses pensamentos podem levar à autopunição ou ao isolamento e à recusa de falar sobre o tema. Se prolongados, é recomendado um acompanhamento psicológico.

Em geral, quando a dor do luto é vivida plenamente, com espaço para conversa e elaboração dos sentimentos, ele se conclui naturalmente. A fase final do luto vem com a aceitação, que abre espaço para um novo modelo de vida sem aquela pessoa que se foi – mas com as lembranças e ensinamentos que ela deixou.

 

Adultos também precisam de apoio para viver o momento da perda. Entenda mais no texto: As cinco fases do luto: como lidar com esse processo

 

 

Fonte: SBP, USP


Agência Babushka | Edição e Revisão: Unimed do Brasil

Revisão técnica: equipe médica da Unimed do Brasil


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