Saúde mental após um ano de pandemia
25 Março 2021
Desde que foi declarada a pandemia do novo coronavírus, em março de 2020, e o isolamento social foi recomendado como uma das medidas para o seu controle, outra preocupação se somou à da propagação do vírus: a manutenção da saúde mental da população diante de um cenário tão inesperado.
E, agora, pouco mais de um ano de pandemia de COVID-19, como está a saúde mental do brasileiro?
Várias pesquisas estão sendo realizadas para responder a essa pergunta. O objetivo desses estudos de mapeamento é guiar ações concretas que possibilitem a melhoria da qualidade de vida e da capacidade de tomada de decisões pessoais e coletivas, mesmo num momento tão delicado como o que todo o mundo está passando.
Confira:
O que é a saúde mental?
Como está a saúde mental durante a pandemia?
Como manter o equilíbrio diante de tanto tempo de pandemia?
O que é a saúde mental?
Vale lembrar: a saúde mental é muito mais do que a mera ausência de transtornos mentais.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), “a saúde mental é um estado de bem-estar no qual um indivíduo realiza suas próprias habilidades, pode lidar com as tensões normais da vida, pode trabalhar de forma produtiva e é capaz de fazer contribuições à sua comunidade”.
Não existe saúde completa se não há saúde mental. Porém, ela depende de muitos fatores, sejam biológicos, psicológicos ou socioambientais. É de se esperar que uma pandemia de tamanha magnitude também tenha efeitos nesse estado de bem-estar das pessoas. Mas, como reduzir ou amenizar esse impacto? É isso que várias pesquisas estão mapeando no Brasil e no mundo.
Como está a saúde mental durante a pandemia?
O medo foi o principal sentimento manifestado pelos brasileiros, principalmente entre os profissionais de saúde, ao longo do primeiro semestre de pandemia.
Entre os profissionais de saúde, o principal medo é o de transmitir a doença para pessoas queridas. Essa foi uma das conclusões da pesquisa Influência da COVID-19 na Saúde Mental da população brasileira e de seus profissionais de saúde, conduzida por Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Associação Brasileira de Impulsividade e Patologia Dual (ABIPD), Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade do Texas e Mackenzie, com apoio do Ministério da Saúde. A pesquisa deve ser repetida a cada 6 meses até 2022, considerando que os efeitos de uma pandemia na saúde mental da população tendem a ser de longo prazo.
A resposta emocional à pandemia pode variar de acordo com gênero e condições socioeconômicas. Excesso de tarefas, falta de perspectiva e insegurança econômica agravam o quadro.
Nos resultados preliminares do estudo conduzido pela Universidade de São Paulo (USP) e publicado na revista científica Plos One, observou-se que as mulheres, pessoas sem filhos, estudantes e pacientes com doenças crônicas e pessoas que tiveram contato com outras pessoas com diagnóstico de COVID-19 foram os mais afetados emocionalmente pela pandemia.
A pesquisa não detalhou os motivos pelos quais as mulheres foram as mais impactadas, mas a literatura médica vem apontando há tempos o quanto o acúmulo de tarefas domésticas, profissionais e da educação de filhos acaba contribuindo para isso.
Outro dado importante percebido na pesquisa: níveis elevados de estresse, depressão e ansiedade foram relatados por mulheres que moram sozinhas e sem filhos. Os pesquisadores acreditam que esses casos estejam associados a outras variáveis que contribuem para o adoecimento: muitas das entrevistadas estavam desempregadas, tinham histórico de doenças crônicas (25,9%) e relataram ter tido contato com pessoas com diagnóstico de COVID-19 (35,2%).
A forma de encarar a situação tendeu a ser mais negativa, com técnicas de “fuga-evitação”: 40,8% teve maior consumo de drogas ilícitas ou lícitas (álcool e cigarro), medicamentos e alimentos, e quase metade dos participantes expressou ter tido sintomas de depressão (46,4%), ansiedade (39,7%) e estresse (42,2%).
Os números coincidem com os resultados encontrados pela pesquisa feita pela Fiocruz em parceria com outras instituições para avaliar a saúde mental de trabalhadores de serviços essenciais no Brasil e Espanha.
Além de ter verificado aumento no consumo de álcool, esse estudo ainda pontuou que, apesar de uma parcela da população ter aumentado o consumo de alimentos saudáveis durante a pandemia, nas populações mais vulneráveis economicamente foi o consumo de alimentos ultraprocessados que aumentou.
Apesar de ainda serem estudos preliminares, essas pesquisas já alertam para a importância de continuarmos focando em medidas de prevenção, mas sem descuidar da saúde mental. Afinal, não há saúde quando não equilibramos esses dois lados.
Como manter o equilíbrio diante de tanto tempo de pandemia?
Um ano depois, a tendência é que as pessoas que cumprem as medidas de isolamento social estejam mais estressadas, ansiosas e cansadas.
Mas a pandemia não acabou e ainda não se sabe quanto tempo vai levar para a vacinação chegar a um maior número de pessoas.
E como lidar com essa espera? Reunimos algumas dicas aqui:
- Tentar manter uma rotina com objetivos, buscando deitar e levantar no mesmo horário. Qualidade do sono é fundamental para a saúde física e mental!
- Sair para espaços abertos, com máscara, distanciamento e higienização frequente das mãos, para caminhar ou praticar alguma atividade física.
- Controle a ansiedade: tente entender o que você pode e o que não pode controlar.
- Tente manter contato com as pessoas mesmo à distância. Estimule a gratidão e o envolvimento com a sociedade, verificando como pode ajudar uma família necessitada, por exemplo.
- Evite o consumo de álcool em excesso e/ou o uso de drogas psicoativas.
- Estabeleça rotinas diárias, equilibradas entre demandas de trabalho, estudo e lazer.
- Organize uma rotina para a prática de atividade física.
- Reduza a exposição excessiva a notícias, ou mesmo conteúdos em redes sociais que causam ansiedade ou sofrimento.
- Introduza em sua rotina práticas de relaxamento ou meditação.
- Evite a automedicação ou o uso exagerado de ansiolíticos.
- Se você tem um diagnóstico de qualquer transtorno mental, mantenha a regularidade das consultas com o profissional com quem você se trata. Se você faz terapia, mantenha contato com seu terapeuta, mesmo que seja por teleatendimento.
- Aprender algo novo. Lá no início da pandemia você se animou com cursos on-line, mas com o tempo abandonou? Que tal dar uma segunda chance? Crie desafios com os amigos e entre em grupos com interesses em comum para se estimular.
Fontes: Portal Hospitais Brasil, UFMG, Fiocruz, USP, ABP/UFMG, Ministério da Saúde
Texto: Agência Babushka | Edição e Revisão: Unimed do Brasil
Revisão técnica: equipe médica da Unimed do Brasil